UPP - A NECESSIDADE DE MUDAR A POSTURA



O governo estadual instalou dezenas de Unidades de Polícia Pacificadora no município do Rio de Janeiro, onde trabalham atualmente mais de 9.000 Policiais Militares, sendo o principal projeto da administração Sérgio Cabral. A presença da Polícia Militar em comunidades carentes é fundamental para que a vida da população dos morros fique livre do domínio de traficantes de drogas. Portanto, o projeto tem um aspecto positivo que deve ser valorizado.
Infelizmente, após cinco anos de implantação, o projeto se assemelha a instalação de um  "Estado Policial", onde apenas a polícia se faz presente, regulando a vida nas comunidades, sem que seja feito o aporte de outros serviços públicos essenciais, isso é o que ocorre na maioria das comunidades onde foi implantado.
Além disso, reforçando a existência de um "Estado Policial", nos últimos meses tem se multiplicando as denúncias de moradores contra a forma de ação dos  Policiais Militares.
Sem ter como avaliar se o treinamento policial tem sido suficiente para criar uma nova postura na relação com os moradores, assim como, não temos como medir se os moradores já conseguiram ver a presença policial com outros olhos, o certo é que os conflitos estão ocorrendo com muita frequência gerando vítimas, inclusive fatais. Isso sem falar nos confrontos armados com os traficantes de drogas que continuam atuando nas comunidades pacificadas.
É hora de reavaliar o projeto e identificar o que foi feito de certo e de errado, para as necessárias correções que levem a uma interação entre comunidade e polícia, caso contrário o projeto seguirá não conseguindo cumprir seus objetivos básicos.
Conheça o conteúdo de uma entrevista com um morador que alega ter sido abordado e ter a sua casa invadida por Policiais Militares sem as formalidades legais,  isso na comunidade da Rocinha, ainda abalada com o desaparecimento do morador Amarildo.
O Globo
oglobo.globo.com
20/12/2013
 ‘O fato é que, infelizmente, a truculência policial continua’
Líder comunitário da Rocinha fala sobre ações da PM na região
O líder comunitário da Rocinha Carlos Eduardo Barbosa, o Duda, foi quem denunciou, ao governo estadual e ao Ministério Público, as torturas ocorridas durante a Operação Paz Armada, que culminou com a morte de Amarildo de Souza. Leia a entrevista completa abaixo.
Como está a situação hoje na Rocinha?
Antes da invasão da minha casa (no dia 13), o morador Ricardo Alves foi agredido quando saía para trabalhar. Policiais da UPP tentaram arrastá-lo para dentro de um beco escuro e só não conseguiram porque uma vizinha começou a gritar que ele é trabalhador. Assustado, ele registrou queixa na 15ª DP (Gávea). O fato é que, infelizmente, a truculência policial continua.
Como a polícia chegou a você?
Eu estava sentado na varanda da minha casa, no segundo andar, quando eles entraram pelo beco gritando palavrões e me mandando sair de casa.
Quantos eram?
Eram pelo menos uns dez, e a maioria não tinha identificação. Um deles, um gordinho, calvo e moreno, era quem dava as ordens. Deve ser o mais graduado. Estavam todos muito nervosos. Gritavam que estavam me reconhecendo, que eu tinha trocado tiros com eles, e perguntavam pela pistola. Tentei acalmá-los e desci com as mãos para cima.
Eles pediram sua identificação?
Antes me mandaram deitar no chão e invadiram minha casa. Apontaram o fuzil para o rosto da minha filha e a mandaram sair de casa. Minha mulher estava saindo do banheiro, e eles também gritaram com ela. Quando vi as duas saindo chorando, fiquei muito preocupado com o que poderia acontecer . Eles sabiam que você é líder comunitário?
Não sei, mas, quando perguntei a eles se tinham um mandado de busca, debocharam da minha cara, me chamando de intelectual, de sabichão.
Depois da revista, eles não tentaram se desculpar com você?
Não, agiram como se isso fosse normal. Enquanto um deles examinava meus documentos, os outros botavam o maior terror. Depois, simplesmente viraram as costas e foram embora. Só um soldado, que ficou para trás, me pediu desculpa, dizendo que não era nada comigo. Assim que saíram, procurei a ouvidoria e depois decidi registrar queixa.