Marquises no RJ: abrigo ou perigo para os pedestres?

Durante toda esta semana, o Rio de Janeiro foi atingido por fortes temporais. As marquises, em todos os cantos da cidade, passam a ser disputadas por um grande número de pedestres que procuram se abrigar da chuva. Especialistas da área da engenharia civil observam grande perigo neste cenário, por causa das péssimas condições de conservação de muitas coberturas de lojas e prédios no Rio, que com o acúmulo de água ficam mais expostas ao risco de desabamento e podem deixar muitas vítimas.

No dia 18 de fevereiro, uma marquise desabou em uma via principal de Madureira, subúrbio do Rio durante um temporal. Na queda, um homem morreu e uma mulher ficou gravemente ferida. As causas do acidente ainda estão sendo investigadas, mas o subsecretário Márcio Motta afirmou que o acúmulo de água após três dias de chuva e o peso de um aparelho de ar-condicionado pode ter causado o desmoronamento.


“As marquises são partes importantes dos prédios, porque ficam acima do transeunte. Então, a sociedade devia ter muito interesse nestas construções”, frisa o engenheiro civil e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Ênio José Pazini Figueiredo, que foi responsável por diagnosticar as patologias existentes no estádio do Maracanã, no Rio. Pazini chama atenção para o número de acidentes com marquises em dias chuvosos. Segundo o engenheiro, a corrosão nas armaduras das coberturas pode intensificar em dias seguidos de chuva, além de outros elementos que contribui com uma possível queda da estrutura, como a drenagem inadequada e acúmulo de material de obra.
Engenheiro Civil Enio Pazini Figueiredo. Foto: Divulgação UFG

A manutenção adequada das marquises deve ser algo primordial para os proprietários de imóveis e autoridades, que devem manter um esquema de fiscalização periódico, com uso de equipamentos próprios para avaliar a estrutura e contratar um técnico especialista para executar o serviço, segundo Pazini.

O especialista enumera os fatores mais comuns que podem provocar a ruptura de uma cobertura: erro no projeto, falha na execução da obra, falta de manutenção preventiva, qualidade do material de construção, entupimentos na área da marquise que provoca acúmulo de água e material de obra depositado sobre o local. Um fato importante destacado por Pazini é que as marquises, na maioria dos casos, não dão sinais de perigo e a ruptura costuma acontecer de forma brusca.

“Um detalhe que reparei no Rio diz respeito a quantidade de caçambas lotadas com restos de construções, especialmente no trecho entre a zona Sul e Centro. A população nunca sabe como estas construções estão sendo feitas, só os proprietários e síndicos, se tem ou não um engenheiro ou arquiteto responsável. As portarias devem expor este fato, por sinal. São obras invisíveis, cabe as autoridades tomar conta”, diz ele. Pelos cálculos de Pazini, a fiscalização feita no período de dois a três anos é suficiente para manter a segurança deste tipo de construção.


Com relação ao número de engenheiros civis especializados para prestar este tipo de serviço, Pazini afirma que o Rio, assim como outros estados nacionais, está em déficit. “Os órgãos representativos da classe deveriam realizar mais cursos para aumentar a demanda destes profissionais. Assim, aumentar a segurança dos pedestres, da população”, comenta o engenheiro.